O Morro dos Ventos Uivantes

Para quem não sabe, eu adoro ler. Para além desse grande aspecto que me define, existe ainda outro importante para o que vou falar hoje, quando coloco algo na cabeça, é como se ficasse marcado a ferro quente.

Leio em papel como, também, em formato digital. Digitalmente, no geral, leio fanfiction (que traduzido quer dizer algo como “ficção criada por fãs”, em outro momento irei explicar exactamente em que consiste).

Agora vocês estão a pensar “ O que tem isso em comum com Morro dos Ventos Uivantes?”. Eu vou explicar. Durante as minhas leituras deparei-me inúmeras vezes com esta obra, sendo que ela era nomeada num dos livros ou fanfics que estava a ler no momento. Quer por existir uma personagem que estava a ler esta obra, ou a tinha lido, ou, porque, durante a narrativa da história, era feita uma comparação entre esta, e a de Morro dos Ventos Uivantes.

A minha curiosidade foi aumentando à medida que me deparava com mais referências da obra, e meti na cabeça que a iria ler. Sentia-me ignorante, pois em todo o lado ouvia o nome do livro e não fazia a mínima ideia do que era tratado nele. Claro que não foi apenas com este livro que ocorreu isto, tenho mais alguns que os conheci através de referências em histórias que li, como por exemplo “Orgulho e Preconceito”, ou, até mesmo, “Romeu e Julieta” que é uma obra conhecida, e da qual eu sempre ouvi falar, mas que, na verdade, eu não conheço, pois nunca a li.

Um dia decidi “É hoje”. Acabei por a comprar online, é um livro usado, mas em boas condições, e como sabem, não tenho problemas com livros usados, desde que estejam bem tratados.

Só a capa fez com que me apaixonasse por ele, e, após o ler, vejo que está perfeita para a história.

Passando ao que interessa, esta obra foi escrita por Emily Brontë, publicada em 1847, sob o pseudónimo masculino Ellis Bell. É uma escritora e poetisa britânica, e das três irmãs Brontë que chegaram à vida adulta, é desta que se tem menos informações.

Como é de prever, a escrita é diferente do que estou habituada, visto que os livros que leio são considerados recentes. A escrita é muito detalhada, tudo é descrito até ao mínimo pormenor, desde o estado de um compartimento, passando por uma personagem, até todas as paisagens que vão sendo nomeadas; nada fica por descrever, e é feito de modo exaustivo.

A história (e para quem não quiser saber aconselho a não ler mais) começa com a ida do novo inquilino da Granja ao Morro. Lockwood vai visitar Heathcliff (proprietário de ambas as terras).
Mas a “verdadeira” história tem início quando a Sra. Dean, a pedido de Lockwood, narra a história de todos os habitantes que se encontravam, naquele momento, no Morro, e de como tudo aquilo se tinha dado. É um romance, mas em nada é comum com uma história de amor que termina bem, em que as personagens têm o lado bom que se sobrepõe ao seu lado mau e onde as qualidades são bastante salientadas. Grande parte das personagens tem uma personalidade difícil de se lidar, e, se vivessem na actualidade, certamente seriam julgadas pelas suas atitudes frias e mimadas.

Como disse, o modo de escrever é muito diferente do que estou habituada, e, além disso, o modo das pessoas verem o mundo (quando a obra foi escrita) era muito diferente de como é agora. Por esta razão, não podemos julgar do mesmo modo, temos que “adaptar” a nossa visão a como se vivia naquela época.

Foi uma leitura difícil para mim. Para começar, o modo como está escrito, o facto de ser tão pormenorizado, tornou a leitura cansativa. Demorei um pouco a terminar o livro, pois a meio fiquei um pouco desmotivada. O meu modo de ver o mundo é “paz e amor” e a falta de harmonia entre as personagens, o excesso de amor-próprio que vi existir nelas, juntamente com o facto de ser uma narrativa de uma vida quotidiana, “travou” a minha curiosidade pela obra.

Mas o final surpreendeu-me. Não estava à espera dele, e em toda a leitura, acredito que nem tenha pensado no final.

A personagem que ficou como minha preferida foi Hareton Earnshaw, não vos vou explicar quem ele é, pois não falo das outras personagens cá, mas vou vos explicar como ele é, e o motivo de ele ser assim. Ele não sabe ler, modo que o seu tutor teve de “castigar” o pai dele. Tornou-o ignorante, bruto e sem qualquer ponta de delicadeza. Pouco fala, principalmente se estiver presente gente que não é da casa, e não tenta mostrar qualquer tipo de delicadeza. Ele foi criado com a ideia de que aprender a ler era desnecessário e não passava de um asseio. Que os actos religiosos (que naquela época eram levados como lei) não tinham valor algum e que não precisava de os cumprir.

Por não ter qualquer tipo de instrução, preferia ficar calado, até na frente de sua prima (que o rebaixava sempre que podia), pois o único modo que tinha para se “defender” era fisicamente. Como a Sra. Dean diz numa certa parte da narração, ele tinha um espírito curioso e quente como qualquer criança tem, mas o facto de ter sido reprimido na altura em que devia começar a ser instruído e que devia começar a desenvolver o seu intelecto, fez com que ficasse mais desumano, menos sociável.

Ele, vendo que é posto de lado por sua prima, começa a tentar aprender a ler, e a batalhar contra aquilo que lhe foi ensinado e contra o que ele sempre foi. No fim, quando a prima decide mudar a sua atitude, e começa a ajuda-lo, as mudanças são significas, mesmo nos primeiros tempos. Ele tem tudo para ser um homem gentil e de negócios, instruído, amável e sociável. Acho que, de todas as personagens, é a que os defeitos estão justificados, e a que eu acho mais digna.

Voltava a ler? Com certeza. Pode não ser o que costumo ler, e não foi uma leitura fácil. Mas gostei. É como abrir uma janela por onde se pode ver o passado, e como era a visão das pessoas nesse tempo.

Vou reler? Num futuro próximo acredito que não, não por não ter gostado, mas por ser um pouco cansativo, e também por ter livros para ler, e outros que quero muito reler.

Aconselho a ler, para vocês pode ser totalmente diferente do que foi para mim.

Se já leram, deixem as vossas opiniões. 🙂